O IMPACTO ECONÔMICO DA CONSTRUÇÃO DO ESTÁDIO DO CORINTHIANS NO PROCESSO DE DESENVOLVIMENTO LOCAL DO BAIRRO DE ITAQUERA - SÃO PAULO

Autor(es): 

Vitor Knöbl Moneo Chaves - Orientador: Prof. Fernando Burgos Pimentel dos Santos

Ano: 

2014

Instituição: 

FGV-EAESP

[INTRODUÇÃO] Entre os anos 2014 e 2016, o Brasil estará no centro do cenário esportivo mundial como sede de dois dos maiores eventos do tipo – a Copa do Mundo de 2014 e os Jogos Olímpicos de 2016. A construção da Arena Corinthians em Itaquera, zona leste da capital paulista, foi uma das obras realizadas para abrigar a maior competição de futebol do planeta. Sem dúvida, uma das mais polêmicas também, em função da concessão de incentivos fiscais, mas também pelas vulnerabilidades sociais históricas do bairro. O argumento oficial do poder público municipal era que a construção do estádio traria “desenvolvimento” para a região. Nesse sentido, algumas perguntas mostraram-se importantes: o que as autoridades estariam chamando de “desenvolvimento”? Os benefícios oriundos do referido “desenvolvimento” seriam destinados a quem? Quais os efeitos de tal “desenvolvimento” sobre os comerciantes do bairro e o que eles teriam a dizer sobre todo o processo? [METODOLOGIA] Para a realização da pesquisa, a metodologia utilizada inicialmente foi a análise documental, com legislações específicas e reportagens veiculadas nos diferentes tipos de mídias. Depois desse primeiro momento, buscou-se uma aproximação com grupos envolvidos com a região e com temas relacionados à construção do estádio. E, finalmente, foram selecionados 19 comerciantes cuja área de atuação é próxima à Arena Corinthians, de modo a coletar depoimentos, impressões e observações destes sobre os processos que ocorriam na região e seus impactos nas atividades econômicas. Foram realizadas três rodadas de entrevistas, utilizando um questionário semiestruturado, nos meses de dezembro/2013, maio/2014 e junho-julho/2014. [RESULTADOS] As conversas com os comerciantes sinalizaram o desconhecimento destes sobre os projetos para a região – tanto os do Governo do Estado quanto os da Prefeitura. A ausência de tais informações indica que o diálogo entre os comerciantes locais e a Prefeitura não se dá de maneira adequada. Ora, se o desenvolvimento econômico é um dos objetivos da construção da Arena Corinthians – e do recebimento da Copa do Mundo –, faz sentido esperar que os empresários da região estejam a par da estratégia de atuação do poder público. Nos três eixos de análise propostos por esta pesquisa – nos negócios, no acesso a serviços públicos e na imagem do bairro –, as declarações dos comerciantes revelaram benefícios exíguos se comparados às expectativas. Embora haja diferenças entre as expectativas – iniciais e futuras – dos entrevistados, poucos se mostraram satisfeitos com os benefícios sentidos ao final da pesquisa de campo. [CONCLUSÃO] Ao final das três rodadas de entrevistas/diálogos previstas, foi possível notar: a ausência de canais de interlocução efetivos entre a população e o poder público; o descolamento entre as demandas dos atores locais e as políticas públicas formuladas pelo Estado; a percepção de benefícios exíguos gerados aos comerciantes; a existência de processos de gentrificação no entorno do estádio; e a melhora de alguns serviços públicos na região – como iluminação pública e policiamento. Entretanto, há desconfiança dos empresários locais quanto à manutenção da prestação desses serviços após a Copa do Mundo. Mas as obras do Complexo Viário Polo Itaquera foram um ponto positivo para a mobilidade da região, segundo os relatos. Respondendo às questões colocadas por este projeto de pesquisa, os impactos gerados pelo conjunto de ações promovidas até então pelo poder público no entorno da Arena Corinthians não são entendidos como desenvolvimento. A incapacidade – ou mesmo indisposição – de inserir os atores locais nos processos decisórios, somada aos resultados aquém do esperado, embasa esse posicionamento. Enquanto a Administração Pública se mantiver alheia às demandas e expectativas da sociedade civil, raras serão as experiências de pleno desenvolvimento – nas quais direitos são reconhecidos e garantidos, e as políticas públicas são formuladas de maneira colaborativa entre Estado e cidadãos.

Departamento: 

GEP

Anexos: