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[INTRODUÇÃO] Indagar o conteúdo ministrado aos alunos do curso de Administração não parece ser muito freqüente no ambiente acadêmico brasileiro. As técnicas gerencialistas estrangeiras, sobretudo anglo-saxãs, são ensinadas como verdades incontestes, desdenhando qualquer fator cultural peculiar ao Brasil. Ignorar a cultura em um estudo administrativo é cegar-se diante da realidade cingidoura e crer em um mundo repleto de fantasias. Foi, justamente, este mal-estar que norteou toda a pesquisa proposta. Realizou-se, então, um trabalho de campo no sul de Minas Gerais, a fim de avaliar a realidade da prática administrativa isenta de conceitos gerenciais, a forma como o curso de Administração é enxergado em tal região, bem como a relação escola-aluno-empresa. Essas observações constituíram um referencial para as reflexões acerca da Administração e do Management, técnicas gerencialistas importadas, no âmbito brasileiro. [METODOLOGIA] As entrevistas foram feitas, nos meses de julho de 2000 e janeiro de 2001, com representantes de empresas, com coordenadores de curso de Administração de Empresas nas faculdades da região e com alunos das mesmas. Tais dados foram necessários para confrontar com as informações obtidas mediante a revisão bibliográfica e, também, para nortear o texto. Analisar o papel do Governo, por meio do MEC, nos cursos de Administração tornou-se importante no decurso da discussão, sobretudo no tocante ao "Provão". Por isso decidiu-se analisar o discurso do MEC, bem como o conteúdo dos "Provões" até hoje aplicados aos alunos. [RESULTADOS] Provindo de uma paternidade estrangeira, o curso de Administração ainda não se desvinculou das origens. O conjunto de técnicas e metodologias do Management habita toda a grade curricular do curso de Administração, bem como o discurso de professores, da mídia, dos "Provões e do Governo. Embora o curso seja completamente despregado da cultura e da realidade, frutificam escolas de Administração pelo país afora, com um total de 451 hoje. Ao se chocar importantes peculiaridades culturais do Brasil, reforçadas pelas entrevistas realizadas, com o discurso do Management, observou-se o quão alienígena é o curso de Administração, um formador de managers, da realidade local. A resistência do empresariado sul mineiro no que se refere ao curso de Administração é patente, acreditando que o curso serve somente para fazer com que os funcionários" aprendam mais rápido as coisas ". As escolas não têm nenhum contato com o mercado de trabalho, tampouco com outras escolas da região. O curso de Administração aparece no contexto sul mineiro com um curso chave: na emissão de diplomas. Alunos graduam em Administração, entretanto raramente pensam em trabalhar com os instrumentos técnicos e metodológicos os quais o curso provê. Como diria um empresário: o Management é um "mundo bonito, mas que não é para mim". E enquanto isso, o MEC exerce um papel fundamental de padronizar, por meio do "Provão", o curso de Administração por todo o Brasil, corroborando para que pesquisas não sejam realizadas e que se continue a rezar a cartilha importada do Management. [CONCLUSÃO] Sem o reconhecimento dos próprios valores não se pode auto-avaliar, tampouco buscar a melhora mediante o autodesconhecimento. Sendo assim, insistir no Management sem ao menos uma revisão crítica e adaptativa de seus conceitos e técnicas implica não conseguir vislumbrar o mundo em que se vive.