Fundos de Capital de Risco: Investindo Perto de Casa

Autor(es): 

Gilberto Sarfati

Ano: 

2013

Artigo em foco: Vazio Institucional e a Desigualdade Regional da Distribuição Espacial dos Investimentos Venture Capital no Brasil
 
Um dos pilares fundamentais de fomento ao empreendedorismo de alto impacto é o desenvolvimento de uma indústria de capital de risco. No Brasil, esses investimentos cresceram de maneira significativa a partir de 2003, com a regulamentação do setor. O capital comprometido com a indústria de private equity e venture capital passou de 5,6 bilhões de dólares em 2004 para 36,1 bilhões de dólares em 2009, segundo dados do segundo censo brasileiro dessa indústria.
 
Estudos recentes sobre capital de risco vêm dando ênfase à distribuição dos investimentos, indicando que, especialmente nas fases iniciais e de desenvolvimento dos empreendimentos de venture capital, há necessidade de o fundo gestor estar próximo fisicamente da empresa investida. Consequentemente, empreendedores baseados em cidades distantes daquelas onde se situam os gestores têm menor probabilidade de receber
investimentos que possam alavancar os seus negócios.
 
A maioria dos estudos a respeito dá-se em mercados desenvolvidos. Entre os poucos realizados em países emergentes, uma pesquisa mostrou que, na China, a concentração geográfica dos investimentos é ainda maior que em mercados maduros, em função de deficiências regulatórias e normativas.
 
Em pesquisa de opinião com gestores de fundos de capital de risco brasileiros, realizada durante o censo da indústria, 79% disseram que o fato de a empresa-alvo estar a mais de 100 quilômetros da gestora não é motivo para declinar um investimento. Apenas 13% afirmaram que a distância pode ser um fator limitante. No entanto, essa percepção está longe de ser realidade, conforme mostra o estudo “Vazio institucional e  a desigualdade regional da distribuição espacial dos investimentos venture capital no Brasil”, de Gilberto Sarfati, professor da FGV-EAESP.
 
Sarfati analisou as distâncias entre 305 empresas investidas e gestoras, o que correspondia à metade do universo existente no Brasil no ano analisado, 2010. A pesquisa apontou uma distribuição regional desigual dos investimentos. A concentração geográfica é maior nos casos das gestoras de venture capital, que têm em sua carteira empreendimentos em estágios iniciais de desenvolvimento, do que nas gestoras de private equity, que investem em negócios em estágio de expansão ou maturidade: 69% dos investimentos de venture capital estão a até 100 quilômetros das gestoras, enquanto, para private equity, esse percentual é de 50%.
 
De acordo com a pesquisa, a concentração das gestoras no Sudeste é de 95%, estando 65% delas em São Paulo e 26% no Rio de Janeiro. Há um pequeno número remanescente de gestoras situadas na região Sul do País. Em relação às empresas investidas, a proporção é de 80% no Sudeste e de 11% no Sul. “Os resultados chamam atenção para a necessidade de desenvolvimento de políticas públicas para investimentos que estimulem a inovação e o desenvolvimento econômico das regiões Norte, Nordeste e Centro-Oeste”, afirma o autor.
 
Atualmente, essas regiões têm pouquíssima chance de receber o apoio de gestores de venture capital, avalia Sarfati. Como consequência, sua chance de crescimento é muito menor em comparação a startups localizadas nas cidades de São Paulo, Belo Horizonte e Rio de Janeiro. “É preciso desenvolver gestores nessas regiões e construir pontes com gestores mais capitalizados do Sudeste”, conclui o autor.
 
Entre em contato com o professor Gilberto Sarfati.
 
Conheça as pesquisas realizadas pelo professor Gilberto Sarfati.