O Empreendedorismo Social (SE) tem atraído um interesse crescente de uma ampla variedade de atores ao longo dos últimos 30 anos, especialmente devido a um entendimento de que o mesmo seria uma ferramenta importante para lidar com os problemas sociais do mundo. No âmbito acadêmico, este interesse não se traduziu em um campo de estudos maduro. Muito pelo contrário, um rápido olhar para esta literatura torna evidente que: a mesma tem sido constantemente submetida a inúmeras divergências, especialmente sobre a definição do conceito de SE, que é muitas vezes baseada em uma noção não explicada de mudança social; ele foi mais sistematicamente investigado em contextos restritos, muitas vezes deixando de lado os chamados países em desenvolvimento ou emergentes como o Brasil, em especial, nota-se uma falta de estudos qualitativos aprofundados nos mesmos; a literatura sobre SE se encontra defasada em relação às suas práticas, e poucos estudos se concentram em como o SE ocorre de forma diária e bottom-up. A fim de mitigar essas lacunas, esta tese examina como práticas de SE realizam mudança social no contexto do Brasil. Nesta investigação realizei um estudo indutivo/qualitativo baseado em práticas em três Organizações Não-Governamentais (ONGs) localizadas em diferentes cidades do estado de São Paulo. A coleta de dados durou de fevereiro 2014 até março de 2015 e foi feita principalmente por meio de observações participantes e de conversas não-estruturadas. Dados e documentos secundários também foram coletadas sempre que disponíveis. Os participantes deste estudo incluíram uma variedade de partes interessadas das organizações estudadas: dois fundadores, voluntários, funcionários, doadores e beneficiários. Dados de observações foram mantidos em diários de campo, conversas foram gravadas sempre que possível e foram posteriormente transcritas. Os dados foram analisados por meio de uma análise temática iterativa. Por meio desta, identifiquei oito temas recorrentes nos dados: (1) estrutura; (2) a relação com outros atores organizacionais; (3) crenças, espiritualidade e autoridade moral; (4) a posição social dos participantes, (5) a mobilização e participação das partes interessadas; (6) sentimentos; (7) finalidade social; e (8) a mudança social. Estes resultados foram posteriormente discutidos sob a ótica da teoria de práticas, e nesta discussão argumento e mostro que, no contexto estudado: (a) embora o SE abrace uma ampla variedade de diferentes fins sociais, eles estão interligados com uma noção comum de mudança social baseada em uma compreensão geral e aspiração pela igualdade social; (b) esta mudança social é realizada de forma processual e contínua, enquanto partes interessadas de grupos sociais antagônicos sentiam-se compelidos e participavam das práticas de SE. Ao responder à pergunta de pesquisa proposta, as contribuições desta tese são: (i) a elaboração de uma definição de SE com base em sua relação com a mudança social; (ii) o fornecimento de evidências empíricas que explicam esta relação; (iii) a caracterização do SE no contexto brasileiro e uma reflexão sobre a sua transferência para outros contextos. Esta tese também faz uma contribuição metodológica, pois demonstra como análise temática pode ser usada em estudos baseados em práticas