Esta tese visa discutir as cidades e seus caminhos emancipatórios à luz da Teoria Crítica da Administração Pública (Alvesson & Willmott, 1992; Alvesson, 1996; Box, 2004; Denhardt, 1981; Denhardt & Catlaw, 2015). No que diz respeito ao conceito de emancipação, uma dupla abordagem é adotada, considerando seu caráter normativo (Calhoun et al., 2007; Deetz, 2009), bem como o caráter político-administrativo no contexto da realidade brasileira. No centro da investigação estão as seguintes questões: Como uma cidade é criada a partir de uma cidade privada? Como essa cidade se emancipa? Como o público (public) e a publicização (publicness) são constituídos? Como a teoria da esfera pública (Fraser, 1990; Habermas, 2014) e a ideia do direito à cidade (Harvey, 2008; Lefebvre, 2001) articulam o conceito de emancipação? O que esse debate representa para a realidade da administração pública e dos municípios brasileiros, além dos movimentos emancipatórios? Para o desenvolvimento da pesquisa, uma abordagem histórica, longitudinal e processual (Langley, 1999; Langley et al., 2013) foi utilizada, com adoção da Análise Crítica do Discurso (Fairclough, 1996; van Dijk, 2001; Fairclough & Wodak, 2010) para a análise dos dados. O caso de estudo único e instrumental (Stake, 1998) - o processo de publicização e de emancipação da cidade-empresa Telêmaco Borba (ligada à empresa Klabin) entre 1940 e 1980-, foi explorado a partir de coleta de dados baseada em documentos públicos (Spink, 2000) e análise arquivística (Carneiro & Barros, 2017; Hill, 1993; Rowlinson et al., 2014). Como resultado da análise, um conjunto de estratégias discursivas da emancipação de Telêmaco Borba foram apontadas: (i) o jornal local O Tibagi como texto, forma e veículo para o conjunto discursivo sobre a constituição da cidade, do público e de sua publicização e para o estabelecimento de uma identidade ambígua entre a história da cidade e da empresa, além do caráter pseudo-público da cidade do projeto urbano da Klabin como reprodução da segregação espacial e política entre os cidadãos (classes trabalhadora e gerencial); (ii) a gênese urbana da Fazenda Monte Alegre até Telêmaco Borba baseada em uma identidade privada (composta por espaços e conteúdos discursivos pseudo-públicos) e na expressão do projeto de desenvolvimento econômico proposto pelo governo brasileiro e materializado pelas famílias de imigrantes industriais Klabin-Lafer; e (iii) a contaminação da esfera pública (homogênea e singular) pela esfera privada por meio de espaços e instrumentos discursivos, da incorporação, pela empresa, da cidade como working city e paper city, e homens privados como gestores públicos e como cidadãos (private public men). Como contribuição da pesquisa, discuto a ampliação do significado de emancipação na Teoria Crítica da Administração Pública para além do argumento racional-administrativo-econômico, a dimensão emancipatória da publicização na Teoria Crítica da Administração Pública e o significado da emancipação para cidades contemporâneas.