TRAJETÓRIAS DE JUVENIS FEMININAS ESTUDANTES DE CURSINHOS POPULARES EM M'BOI

Autor(es): 

Vivian Samara Silva Batista Vieira - Orientador: Tiago Corbisier Matheus

Ano: 

2020

[INTRODUÇÃO] Os estudos sobre juventude até o final do século XIX classificavam a juventude via ligação causal com o processo de amadurecimento biológico. A partir do século XX a juventude passa a ser interpretada pelas formas de vida dos jovens em relação com a realidade social olhando para a juventude de maneira plural considerando a relação entre sociedade e sujeito. Todavia ainda há uma lacuna no que diz respeito às juventudes pela ótica do gênero, de modo que se possa elucidar as diferenças das juventudes masculina e feminina, ainda mais quando observado marcadores de classe e raça junto ao de gênero. Isto pode nos trazer um novo olhar sobre um problema que surge com essa nova abordagem, pois a juventude é múltipla e as mulheres periféricas negras, indígenas, brancas e amarelas têm suas questões específicas, sendo uma importante discussão para a desconstrução da noção de sujeito universal. As juventudes periféricas femininas sob a ótica da educação, hoje, a partir da enorme demanda reprimida por acesso ao ensino superior, acabam encontrando nos exames vestibulares um grande obstáculo para a continuidade de seus estudos. É através da educação sociocomunitária (GROPPO, 2012) fornecida pelos cursinhos populares, que essas juventudes femininas sem condições de custear sua preparação ao ingresso na vida universitária usufruem para possibilidade de conquista do direito à educação superior. [METODOLOGIA] A pesquisa foi construída através de investigação exploratória e qualitativa articulando diferentes tipos de metodologias, sendo elas: a escrita auto etnográfica, o levantamento bibliográfico-documental e, de forma híbrida, os conceitos de pesquisador conversador (SPINK,2008) e observação participante (HAGUETTE, 2003), contando com idas a campo no Polo Santo Dias da Rede Ubuntu de Cursinhos Populares aos sábados entre os meses de Agosto de 2019 e Março de 2020. [RESULTADOS] Foram observadas três atribuições de sentido para a perspectiva de entrar para faculdade, sendo elas: i) busca pela quebra de estigma do acesso de mulheres em espaços de poder simbólico e econômico como são as universidades, algo particularmente distante para as populações de classes mais baixas; ii) seguir os próprios sonhos ao poder escolher suas profissões e iii) proporcionar uma melhor qualidade de vida aos familiares, de modo a fornecer uma vida que elas/eles nunca tiveram a oportunidade de ter. Por fim foi percebido que a dedicação integral aos estudos ainda é uma barreira para as meninas, visto que os trabalhos domésticos e cuidados com irmãos mais novos lhes são frequentemente atribuídos.[CONCLUSÃO] Conclui-se que as aspirações, desafios e tensões de jovens mulheres periféricas na preparação para entrada no ensino superior via cursinhos populares, tanto da perspectiva da entrada e saída, atravessam marcadores sociais que modificam suas juventudes. Especificamente, a questão de gênero, raça e classe impacta nos anseios dessas jovens, impactando tanto na forma como essas pessoas são vistas pela sociedade, como também no modo como elas vêem a si próprias.

Departamento: 

GEP

Anexos: