MULHERES EM SITUAÇÃO DE VULNERABILIDADE SOCIAL: CONTEXTOS, CONSTRUÇÃO SIMBÓLICA E POLÍTICAS PÚBLICAS

Autor(es): 

Beatriz Junqueira Kipnis - Orientador: Prof. Marcus Vinicius Peinado Gomes

Ano: 

2015

Instituição: 

FGV-EAESP

[INTRODUÇÃO] Houve mudanças significativas em termos dos aparatos legais disponíveis no Brasil para combater a violência de gênero e consequentemente um movimento de expansão de instituições ligadas a esse trabalho, como delegacias especializadas e organizações específicas para mulheres. No entanto, nos pareceu que esse avanço ainda não leva em consideração uma possível diferença entre violência de gênero em contextos agrícola e urbano. Neste contexto, este estudo pretende investigar se e como a estrutura social do machismo se manifesta da mesma maneira nos contextos agrícola e urbano. Além disso, busca responder também como essas manifestações do machismo são impactadas e impactam a formulação de políticas públicas para mulheres em situação de violência se há ou não diferenças na manifestação do machismo especificamente em termos de violência de gênero nas zonas urbana e agrária. [METODOLOGIA] Serão utilizadas as perspectivas ontológicas e epistemológicas do Realismo Crítico e da Análise Crítica do Discurso. O realismo crítico se enquadra nas nossas perspectivas de pesquisa porque ele apresenta uma ontologia estratificada, como uma estratégia para evitar o trade off entre agentes e estrutura (BHASKAR, 2012). Isso porque o realismo crítico coloca três níveis da vida social, o real, o atual e o empírico, que interagem entre si dialeticamente (BHASKAR, 2012), desde modo não estão lidando com uma situação em que a estrutura social define tudo, nem que os agentes definem tudo, ambos são relevantes e se influenciam mutuamente. A partir disso, o presente estudo se baseou em uma revisão bibliográfica e em entrevistas com pessoas que trabalham com violência de gênero em São Paulo e Goiás, com posterior análise de discursos e estratificação de acordo com as esferas do Realismo Critico. [RESULTADOS] A estrutura social do machismo está presente nos dois contextos, urbano e agrário, porém se manifesta de jeitos diferentes. No contexto agrário, de acordo com os entrevistados, o machismo se manifesta de forma mais aberta, com o reforço dos papeis tradicionais de gênero de que o papel da mulher é cuidar da casa e dos filhos e o homem de prover financeiramente a família, estando em uma posição de superioridade. Já no contexto urbano, a manifestação da estrutura social machista adquire outras formas, sendo que há uma maior inserção da mulher no mercado de trabalho e no discurso as pessoas não reproduzem os papeis de gêneros tradicionais, porém na prática acabam acontecendo ainda reproduções desses mesmos papeis de uma forma mais sútil, pelo modo que a mulher deve se vestir, pela educação diferente dada aos filhos de diferentes gêneros etc. As manifestações do machismo impactam a formulação de políticas públicas para mulheres em situação de violência porque levam a políticas com pouca infraestrutura, equipe e orçamento e porque abre uma brecha maior entre formulação e implementação. Por fim, há muita divergência em relação à existência ou não de diferenças na manifestação do machismo especificamente em termos de violência de gênero nas zonas urbana e agrária. [CONCLUSÃO] A violência contra a mulher em contextos agrários está em uma situação de invisibilidade em termos de dados disponíveis, políticas públicas e produção acadêmica. A maior parte dos esforços do poder público para atacar a violência contra a mulher está focada em campanhas de conscientização, que não mudam nem a estrutura social, nem os elementos extras discursivos das mulheres em situação de violência.

Departamento: 

GEP

Anexos: