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[INTRODUÇÃO] Com uma maior ocupação histórica de mulheres na Câmara Municipal de São Paulo, surge a questão de conciliar um padrão de comportamento vigente na vida privada, o feminino, com um padrão de comportamento do ser político, que é historicamente um ser masculino, na maioria das vezes. Com essa motivação, buscou-se identificar a influência do padrão de comportamento do ser político em mulheres, de modo a observar como estar na política pode modificar um padrão de comportamento; além de monitorar a Câmara Municipal quanto à composição de suas Comissões e Mesa Diretora; e a forma como a performance de gênero de duas vereadoras, Sâmia Bomfim (PSOL), que deixou o cargo para se tornar Deputada Federal e Soninha Francine (PPS), em seu segundo mandato como vereadora, é afetada pelo meio político. [METODOLOGIA] Para isso, foram feitas entrevistas de história de vida adaptadas, tornando-se entrevistas abertas, numa pesquisa qualitativa exploratória. As vereadoras escolhidas possuem idade, partido e trajetória política diferentes, o que enriquece a experiência. Além disso, foram obtidos dados secundários para exercer o monitoramento das composições da Câmara Municipal. [RESULTADOS] Como resultados, foi possível observar que as entrevistadas concebiam algumas atividades como vinculadas a gênero e outras como atividades da fase infantil, adulta, ou atribuições de um cargo específico. Além disso, alguns marcadores de gênero não mencionados por elas também se fazem presentes, como o fato de, ao compor um time feminino de basquete, há uma reafirmação de gênero, mesmo que inconsciente, principalmente pelo fato de não haver sido relatada uma dúvida quanto a ao time de que deveria participar. Essa é uma reafirmação sistemática de como o gênero é construído e instaurado como sistema de divisão em diversas situações. Outra forma de um marcador de gênero se fazer presente é quando as ações ou as consequências são diferentes com base no gênero, como no caso de ter um filho e os respectivos impedimentos ao pai e à mãe da criança, conforme demonstra a história de vida de Soninha Francine. Ainda, há marcadores que condicionam a idade a gênero, com o casamento no civil de Soninha, que só pode ocorrer com sua emancipação, por ela ter 16 anos na época, e por ser uma mulher e um homem desejando se casar. [CONCLUSÃO] Por fim, as considerações finais são de que houve a necessidade de adaptar o método de entrevista de história de vida, devido à dificuldade de oferecer fluidez à entrevista, como se ao relatar uma experiência, a entrevistada estivesse sempre esperando a próxima pergunta. Isso porque apesar do método haver sido explicado, ele não é muito usual, o que deixou de conferir naturalidade à entrevista nessa forma, de modo que o método foi adaptado. Além disso, foi um desafio encontrar duas vereadoras dispostas a ceder seu tempo para entrevistas acadêmicas. Também se ressalta o fato de Simone de Beauvoir (1949) ter colocado o homem também como sinônimo do neutro ao invés de sempre o diametralmente oposto à mulher, de forma que, para estar na politica, Sâmia Bomfim e Soninha Francine não precisaram assumir um papel masculino, mas, na verdade, foram mais úteis a elas as habilidades que adquiriram sem um marcador de gênero, tidas como atividades de adultas.