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[INTRODUÇÃO] Ao longo dos últimos 30 anos tem-se percebido uma intensificação da importância da superestrutura financeira para as economias (notadamente nas avançadas). A despeito deste crescimento (já fartamente documentado na literatura acadêmica, que geralmente o denomina “financeirização”), as crises a ele relacionadas tornam-se a cada passo mais agudas. Apesar de a Crise geral de 2008/09 ter sido, até agora, o momento de paroxismo deste tipo de fenômeno, houve outras ocasiões parciais em que seus elementos prototípicos estiveram presentes, como por exemplo: México 1982, Japão 1989, Suécia 1992, México em 1994, Crise Asiática de1997, Bolha Nasdaq em 2001. As explicações e soluções tradicionais para o fenômeno são muitas vezes tautológicas ou “morais”: acusam grupos específicos da sociedade (como banqueiros, policy makers, políticos, etc.) e sugerem “a volta ao capitalismo clássico, menos liberal e livre de vícios”, “mais regulação”, censura à “ganância”, etc. [METODOLOGIA] Este trabalho valeu-se da leitura crítica e fichamento de conceitos centrais ao entendimento de Robert Kurz, remetendo ao estudo do conceito de valor-trabalho segundo autores clássicos (Smith, Ricardo, e Marx), bem como a sumarização das leituras do autor sobre o socialismo soviético, estatismo, monetarismo, trabalho abstrato e seu ethos. Também foram utilizados artigos acadêmicos que criticam a visão de Kurz, de maneira a serem percebidas as visões potencialmente críticas e concorrentes. [RESULTADOS] Os elementos essenciais que se destacaram na articulação conceitual de Kurz foram: 1. O advento da 3ª Revolução Industrial (entendida como a incorporação da microeletrônica, engenharia genética e robótica ao processo produtivo) criaria economias de mão-de-obra tão grandes que inviabilizam a extração de valor da produção real para a remuneração de salários e lucros em nível suficiente; 2. Neste contexto, a “financeirização” não é tomada como ponto de partida das crises, mas como sintoma de um problema subjacente muito mais profundo: a crise de realização do valor-trabalho na produção/circulação; 3. A contra-tendência que tenta manter a “normalidade” nas economias é a de criação ("irreal"ou espúria) de valor através das finanças, seja na forma de baixa artificial dos juros (o que diminui custos de oportunidade), ampliação a base monetária (“quantitative easing”) ou concessão de créditos irrealistas (“subprime”, dívida pública, etc). [CONCLUSÃO] A teoria econômica e sociológica de Kurz é de fato uma explicação alternativa e merecedora de credibilidade e maior atenção de acadêmicos, policy makers, autoridades, do público em geral e setores críticos. Quando se analisa este arcabouço teórico na sua forma mais completa e “madura”, tal qual publicada pelo autor a partir de meados dos anos 90, possui no mínimo verossimilhança factual e poder de previsão surpreendentes. Por fim, esta leitura têm implicações sociais e sociológicas extremamente relevantes, indicando causas e complicadores de fenômenos como a modernização atrasada, a imigração, a xenofobia, o anti-americanismo e o anti-semitismo.