CRIAÇÃO DE VALOR NO SETOR PRODUTIVO COM ALTO INVESTIMENTO PERMANENTE: VALE A PENA PRODUZIR?

Autor(es): 

Daniel Simonsen Allegro - Orientador: Prof. Oscar Luis Malvessi

Ano: 

2000

[INTRODUÇÃO] O desenvolvimento no contexto mundial do novo conceito de Criação de Valor trouxe para os investidores e para os administradores novos paradigmas de avaliação e gestão das empresas. As corporações não só têm que ser produtivas e competitivas, como também têm que compensar o custo mínimo do seu capital operacional investido. O capital é um recurso escasso: não são todas as empresas que conseguirão sucesso na disputa por esse. Desta forma, somente sobreviverão competitivas aquelas empresas que tomarem consciência da necessidade de somente aplicar recursos em projetos de retorno adequado, pois será para estas que naturalmente o capital tende a migrar. No contexto das empresas brasileiras de produção "pesada" que necessitam de alto investimento permanente, ou seja, muitos recursos aplicados em pesquisa e desenvolvimento, maquinário, edifícios e plantas, a disputa pelo capital é quase uma necessidade diária. Precisam estar constantemente indo ao mercado para financiar seus projetos. E as margens desse tipo de empresa, que produz produtos considerados commodities, de baixo valor agregado ou com pouco poder de mercado, está diminuindo cada vez mais em virtude do fim da reserva de mercado nacional e pela tão clamada globalização. Assim sendo, será que elas, que opera com uma margem de lucratividade tão apertada, num mercado com alto custo de capital como o brasileiro, vão sobreviver à disputa pelo capital? Essa pesquisa buscará analisar algumas dessas empresas para avaliar se atualmente, sobre a ótica de criação de valor, vale a pena produzir pesado no Brasil? [METODOLOGIA] Selecionou-se nove empresas de grande porte, que constavam como líderes em faturamento setorial na publicação anual da revista Exame, Maiores e Melhores. Sobre estas nove empresas, fez-se um levantamento de demonstrativos financeiros dos anos de 1995-1998. Os nove demonstrativos foram tabulados e foram gerados para cada uma das empresas duas planilhas de análise. A primeira, de análise econômico-financeira tradicional, serviu para mostrar as dificuldades de operacionalidade das empresas, em termos de baixa rotatividade e ciclo-financeiro. A segunda seguia o modelo de análise da segundo o modelo de EVA e MVA, proposto por Bennett Stewart em seu "The Quest for Value, que serviu de guia-referência para este estudo. Com estas planilhas em mãos se comparou os resultados individuais e agregado das empresas para se responder à pergunta chave do estudo (Se vale a pena produzir no Brasil?). [RESULTADOS] Analisando através do conceito de Free Cash Flow, pôde-se perceber a enorme necessidade de capital e de reinvestimento que as empresas desse setor possuem. Não é possível um desenvolvimento auto-sustentado pelos lucros. Por outro lado, analisando as empresa sobre uma perspectiva de criação de valor, nenhuma das empresas agregava valor: todas possuíam na média do período analisado taxas de rentabilidade inadequadas para os seus custos de capitais. E o mercado sabia disso e precificava essas empresas como tal, pois, invariavelmente, todas apresentaram valor de mercado inferior ao valor contábil. Mesmo empresas como a Petrobrás e a CVRD que possuem custos de capital de terceiros subsidiado não conseguiram ter um custo mínimo de capital tão baixo quanto as suas taxas de retorno. [CONCLUSÃO] Se as taxas de lucratividade desse tipo de empresa são inadequadas para o seu custo de capital, a lógica financeira diz que no longo prazo estas não vão sobreviver à disputa pelo capital e acabarão ficando obsoletas ou mudando de negócio. Por outro lado, este é o tipo de empresa que mais presente no Brasil, que ainda não produz notoriamente produtos de alta tecnologia. Assim, se a migração de recursos realmente acontecer no contexto macroeconômico atual, as perdas sociais serão demasiado grandes, possivelmente impedindo até que as novas empresas que surjam tenham mercado para consumo. Não só por vantagens financeiras, mas como por necessidades macroeconômicas, é necessário atentar os administradores de empresas para a questão da criação de valor.

Departamento: 

CFC

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