CONTAS EXTERNAS: O PROBLEMA DO FINANCIAMENTO

Autor(es): 

Edison Ticle de Andrade Melo Souza Filho - Orientador: Prof. Alkimar R. Moura

Ano: 

1999

[INTRODUÇÃO] As recentes crises econômicas que se abateram sobre as economias da Ásia (1997) e Rússia (1998) disseminaram um pânico generalizado nos investidores internacionais acerca dos fundamentos macroeconômicos da economia brasileira. A vulnerabilidade da economia brasileira pode ser brevemente descrita o através dos déficits gêmeos. Ao lado de um gigantesco déficit orçamentário, cujas cifras remontam a quase 80% do PIB (déficit nominal), O resultado de transações correntes apresenta-se deficitário desde 1994, atingindo cerca de 45% do PIB nos dados acumulados 12 meses, até dezembro de 1998. Este trabalho terá por objetivo mostrar a evolução das contas externas do Brasil, de 1994 até 1998. Ademais, as Contas de Capital serão minuciosamente analisadas, com o intuito de compor o perfil dos ingressos de capital ocorridos para financiar o déficit em transações correntes. [METODOLOGIA] Inicialmente foram levantados os dados referentes ao Balanço de Pagamentos do Brasil de 1994 a 1998 junto ao Banco Central. As Contas de Capital foram cuidadosamente detalhadas, procurando-se identificar o volume de ingresso de capitais ocorrido através de cada instrumento de captação permitido pelo Banco Central. Conhecendo-se exatamente os montantes que ingressaram por cada uma das modalidades permitidas, procedeu-se a estimar o prazo médio de permanência destes recursos no país, de acordo com a finalidade de aplicação destes capitais. [RESULTADOS] Constatou-se que aproximadamente US$ 261 bilhões ingressaram no país entre jan/1994 e dez/1998 (tomando-se apenas as contas de investimentos, empréstimos em moeda e financiamentos, já que seus prazos médios de permanência são passíveis de serem estimados). O prazo médio de permanência destes ingressos foi estimado em 30 meses, sendo que em 1994 era de 14,4 meses, atingiu 35,9 meses em 1997 e foi de aproximadamente 28,7 meses em 1998. [CONCLUSÃO] Inicialmente, ficou claro que o volume de captações brasileiras se elevou significativamente após o Plano Real, fato que atesta a nova imagem do país perante a comunidade financeira internacional. Em segundo lugar, o prazo médio dos ingressos de capital também aumentou, mas sofreu uma redução como conseqüência das crises financeiras internacionais do final de 1997 e ao longo de 1998. Ao que tudo indica, dada a facilidade de atrair capitais até julho/1997, o governo apostou num cenário de liquidez abundante, no qual as contas externas seriam perfeitamente financiadas. Enquanto isso, os ajustes do setor público e da defasagem cambial ocorreriam sem maiores solavancos, de maneira lenta e gradual. Contudo, a necessidade de atrair capitais foi decisiva para a perda de credibilidade do Brasil no exterior. A armadilha de taxas elevadas de juros e manutenção da política cambial acabaram por contribuir para a explosão do déficit orçamentário e conseqüente deterioração total das expectativas em relação aos fundamentos da economia brasileira. Nem sequer um vultoso acordo de ajuda financeira, da ordem de US$45 bilhões, foi capaz de devolver a credibilidade perdida. Além de um fabuloso déficit fiscal e uma elevada dívida de curto prazo, o governo ainda teria que conseguir financiar as contas externas. Todavia, o fez utilizando-se de capitais de curto prazo. Quando estes capitais deixaram o país, levaram consigo milhares de residentes, que saíram afugentados pela real possibilidade de ruptura do modelo. E foi o que ocorreu em 13 de janeiro de 1999. Optou-se por flutuar o câmbio numa tentativa de preservar as reservas internacionais e, ao mínimo garantir o financiamento de nossas contas externas em 1999. Finalmente, a flutuação cambial deverá trazer maior liberdade para a condução da política monetária, mas os compromissos de ajuste do setor público não podem ser esquecidos. O crescimento sustentado só virá com a eficiência do setor público, implicando em responsabilidade fiscal e monetária.

Departamento: 

PAE

Anexos: