Universidade On-line Gratuita: um Modelo ainda em Gestação

Autor(es): 

Libânia Rangel de Alvarenga Paes

Ano: 

2013

Artigo em foco: MOOCs e Modelos de Negócios de Startups de Educação
 
Em 2012, Bill Gates afirmou, em uma convenção em Aspen, que Salman Khan era o melhor professor que ele havia conhecido, ajudando a popularizar o conceito de Massive Open Online Course (MOOC) ou Curso Aberto On-line para as Massas. O termo foi criado em 2008 por Dave Cornier, da University of Prince Edward Island, para a disseminação de cursos pela internet. A maior parte dos cursos é gratuita. Não há pré-requisitos para a inscrição, apenas um simples cadastro que, na maior parte das vezes, não vai além de nome do usuário, e-mail e senha. Assim, temas e aulas que antigamente eram exclusivos para alunos matriculados passaram a ficar à disposição de todos.
 
Com a adoção do modelo por escolas de renome como Harvard, MIT e Stanford, investidores começaram a injetar recursos financeiros nas plataformas de MOOC. Entretanto, apesar do interesse que esse tipo de empreendimento vem despertando, pouco se comenta sobre o modelo de negócios que o sustenta. A pesquisa “MOOCs e modelos de negócios de startups de educação”, da professora da FGV-EAESP Libânia Rangel de Alvarenga Paes, faz uma análise de como tornar essas startups sustentáveis financeiramente, com base no estudo de alguns dos mais importantes MOOCs: os internacionais Coursera, Khan Academy, Udacity e Udemy, e os nacionais edX e Veduca.
 
Paes enfatiza que, a despeito de o custo por aluno ser baixo – o custo de reprodução dos conteúdos dos cursos é desprezível –, o custo de criação e produção é expressivo. Estima-se que, para uma aula de 30 minutos, sejam necessários 40 homens/hora de trabalho de criação, gravação e edição. Além disso, a equipe deve ser multidisciplinar, uma vez que são raros os acadêmicos que detêm conhecimento de edição de vídeo e criação gráfica. E o investimento para manter no ar uma plataforma com milhões de usuários é considerável.
 
Como, no entanto, os cursos são, em sua maioria, gratuitos, a viabilidade econômica dos MOOCs não é clara. De acordo com a pesquisa, a tendência é que ao menos a certificação do conhecimento seja cobrada. Para o mercado, o atestado de passagem – o diploma – por uma instituição cuja marca é reconhecida é ponto crucial.
 
Pesquisa realizada pelas empresas Instructure e Qualtrics – a primeira, desenvolvedora de tecnologia para a educação e a segunda, líder no provimento de softwares para surveys on-line – mostrou que dois terços dos usuários que abandonaram um curso teriam mais motivação para concluí-lo se valesse créditos ou tivesse um certificado válido. Coursera, Udacity e Veduca têm adotado esse modelo. No Coursera, dos 538 cursos listados em novembro de 2013, 137 oferecem certificado, que custa entre 29 e 99 dólares. No brasileiro Veduca, o MBA em engenharia e inovação, que conta com professores da USP, UFSCar e UFSC, é gratuito sem o fornecimento de certificado, mas custa 6 mil reais para quem quiser o diploma.
 
No caso do Udacity, o certificado é oferecido ao final de cursos que começaram a ser cobrados em janeiro de 2014. Os valores vão de 100 a 150 dólares. No entanto, no caso de um curso de mestrado em parceria com o Georgia Institute of Technology, o valor é bem mais alto: 7 mil dólares mensais. Segundo o fundador, Sebastian Thrun, um dos motivos que levaram à cobrança foi a alta taxa de desistência dos cursos gratuitos: a cada 100 alunos, apenas cinco passam nas provas finais.
 
Essa cobrança do Udacity abriu várias discussões sobre o modelo de negócios ainda em vigência no Coursera, edX e Khan Academy. A primeira delas é que a proposta de levar educação a qualquer pessoa do mundo, principalmente de graça e de maneira eletrônica, não está fazendo com que as pessoas aprendam sozinhas. Outra discussão é a qualidade dos formatos e conteúdos dos cursos, que, muitas vezes, deixa a desejar.
 
Para a pesquisadora, apesar de o ensino on-line gratuito ser uma forte tendência, questões básicas como essas ainda precisam ser trabalhadas, e, provavelmente, os modelos que dependem de doações, como o da Khan Academy, serão cada vez mais raros. O site Udemy, por exemplo, vende a outras empresas a possibilidade de hospedar uma plataforma privada para o compartilhamento corporativo, a um custo de 99 dólares mensais para 50 funcionários e até 999 dólares para 1.000 funcionários.
 
Para as universidades, há várias vantagens em utilizar o modelo dos MOOCs, segundo Paes: o teste de uma nova tecnologia, a possibilidade de acompanhar o comportamento do aluno, o aumento da visibilidade e o ganho em termos de imagem, por aderir a um modelo novo e aberto de ensino. Além disso, a escola pode receber parte do lucro e da receita dos certificados.
 
O maior risco é o desconhecimento sobre a pedagogia necessária para atingir centenas ou milhares de alunos ao mesmo tempo. Como frisa a professora da FGV-EAESP, apenas filmar uma aula e colocá-la em uma plataforma é uma prática ainda comum, e que pode ser uma das causas de tantas desistências por parte dos alunos.
 
Entre em contato com a professora Libânia Rangel de Alvarenga Paes.