O que Empreendedores Aprendem na Faculdade

Autor(es): 

Marcelo Marinho Aidar

Ano: 

2012

Artigo em Foco: O Papel do Curso de Administração de Empresas na Formação do Empreendedor
 
No Brasil, cerca de 60% dos estudantes de nível superior pensam em abrir um negócio. Para suprir essa demanda, cada vez mais, as universidades brasileiras vêm incluindo disciplinas de empreendedorismo nos seus currículos. No mundo acadêmico, há um crescente interesse pelo tema: o número de publicações científicas sobre o assunto aumentou mais de 300% em 2010, em comparação a 2000.
 
Mas será que o ensino de empreendedorismo em sala de aula vem ajudando efetivamente os alunos a montarem seus negócios? Para responder a essa questão, o professor Marcelo Marinho Aidar, da FGV-EAESP, realizou uma pesquisa com oito turmas de ex-alunos de uma faculdade de administração de empresas. O estudo verificou que o curso teve papel pouco importante na decisão de os ex-alunos empreenderem. Para a maioria deles, as disciplinas oferecidas não os estimularam a abrirem novos negócios – eles acreditam que a ênfase no empreendedorismo é muito recente, na escola pesquisada, para já surtir efeito.
 
De fato, apesar de o Brasil apresentar uma quantidade alta de iniciativas de empreendedorismo em educação, se comparado ao restante do mundo, a maioria das universidades do País oferece a seus alunos apenas disciplinas de Introdução ao Empreendedorismo ou de Criatividade e Inovação, enquanto, em outros países, as instituições buscam maior profundidade no tema, oferecendo também disciplinas de Criação de Novos Negócios.
 
Apesar de as disciplinas em si não instigarem os alunos a empreenderem, segundo o estudo de Aidar, o que eles aprendem durante a faculdade fornece algum nível de suporte para que possam identificar oportunidades de negócios, planejar a implementação e ampliar sua atuação. Além disso, os ex-alunos acreditam que os contatos adquiridos no período de graduação têm importante papel, tanto para a criação quanto para a expansão de novos negócios.
 
Interessante notar como é alta a intenção de empreender, entre os ex-alunos do curso de administração que participaram da pesquisa. Durante o período da faculdade, 41 dos 95 ex-alunos consultados tinham vontade de montar um negócio – e, destes, apenas um diz não ter mais tal intenção. Por outro lado, mais da metade dos que não tinham desejo de empreender durante o curso superior, hoje, manifestam ter essa intenção.
 
Naturalmente, há uma grande distância entre intenção e ação empreendedora. Ou seja, muitas pessoas que não estão, de fato, abertas a assumir algum nível de risco podem passar anos apenas com o desejo de empreender, sem nunca chegar a abrir um negócio. Não é o caso dos ex-alunos consultados na pesquisa. O levantamento indica um nível relativamente alto de conversão de intenção em ação empreendedora – para 75% dos ex-alunos.
 
Embora o público pesquisado seja relativamente novo, com idades aproximadas entre 31 e 38 anos, em torno de 65% dos que empreenderam já criaram mais de um negócio desde que se formaram. Quase metade já não é mais microempresária e 17% já alcançaram, pelo menos, a posição de empresários médios, com empresas que faturam, ao menos, R$ 16 milhões ao ano.
 
Apenas 2% dos ex-alunos que empreenderam o fizeram por necessidade, por falta de opção. Isso significa que 98% montaram um negócio porque, de alguma forma, visualizaram uma oportunidade. Outro sinal de que o grupo entrevistado estava bem preparado é que mais da metade tinha experiência no ramo em que abriu o empreendimento. E em torno de 40% dos ex-alunos formularam um plano de negócios antes de empreender, uma taxa que supera, em muito, a dos empreendedores em geral.
 
Apesar de, formalmente, as disciplinas de empreendedorismo ainda não mostrarem impacto na intenção e na ação empreendedora dos alunos, a faculdade parece ter alguma influência no preparo para os alunos visualizarem e implantarem oportunidades de negócios. É importante observar, também, o papel que a família exerce para esses empreendedores: aproximadamente 65% deles tiveram o incentivo de familiares próximos na iniciação de seus negócios.
 
A pesquisa dá mais sinais de como o processo de formação de empreendedores é complexo e influenciado por múltiplas variáveis. A própria intenção de iniciar um negócio é bastante dinâmica e pode mudar muito, em função da maturidade do indivíduo e do seu momento de vida.
 
 
Entre em contato com o professor Marcelo Marinho Aidar.
 
Conheça as pesquisas realizadas pelo professor Marcelo Marinho Aidar.