O Cartão de Crédito e os Estudantes Universitários: Uma Relação Delicada

Autor(es): 

Wesley Mendes da Silva, Wilson Toshiro Nakamura e Daniel Carrasqueira de Moraes

Ano: 

2012

Artigo em Foco: Credit Card Risk Behavior on College Campuses: Evidence from Brazil
 
O acesso ao crédito influencia fortemente o estilo de vida das pessoas, proporcionando poder de compra e aumentando o status social. No entanto, o uso indiscriminado de cartões de crédito pode ter um efeito negativo. O comportamento financeiro inconsequente de adultos jovens pode prejudicar seu desempenho acadêmico, além de comprometer a sua saúde física e mental.
 
O artigo “Credit card risk behavior on college campuses: evidence from Brazil”, de Wesley Mendes da Silva, Wilson Toshiro Nakamura e Daniel Carrasqueira de Moraes, procura analisar o comportamento dos estudantes universitários, um grupo de usuários que, muitas vezes, demonstra pouca responsabilidade no uso de produtos financeiros.
 
Segundo a psicologia econômica, alto endividamento é, geralmente, associado a níveis elevados de estresse físico e psicológico. Pesquisas nos Estados Unidos têm documentado níveis elevados de endividamento em grupos de estudantes. Eles usam frequentemente o cartão de crédito, para pagar a faculdade ou para comprar material de estudo. Recentemente, o alto nível de endividamento dos universitários americanos levou ao estabelecimento de restrições em relação ao atendimento de pedidos de cartões de crédito nas universidades.
 
No Brasil, parte do sistema de ensino superior é pública e gratuita. Isso resulta em despesas diferentes daquelas que ocorrem nos Estados Unidos. Além disso, as indústrias de cartão de crédito dos dois países são distintas. No entanto, o uso de cartões no Brasil é cada vez maior, com impactos sobre o comportamento dos indivíduos. E, apesar de sua importância, ainda não se examinou o fenômeno detalhadamente.
 
O artigo procura preencher essa lacuna. A pesquisa abordou, de maneira aleatória, nos campi universitários paulistanos, 769 alunos que estudavam na Universidade Presbiteriana Mackenzie, Fundação Armando Álvares Penteado (FAAP), Fundação Escola de Comércio Álvares Penteado (FECAP), Fundação Getulio Vargas (FGV-EAESP), Universidade Bandeirantes (UNIBAN) e Faculdade de Economia, Administração e Contabilidade da Universidade de São Paulo (FEA-USP).
 
Os estudantes pesquisados foram classificados como tendo um comportamento financeiramente arriscado quando pelo menos uma das quatro características foi encontrada: (a) saldo existente no cartão de crédito igual ou superior a R$ 1 mil; (b) atraso de 60 dias ou mais no pagamento de uma fatura, nos últimos dois anos; (c) utilização do limite total do cartão de crédito nos últimos dois anos; (d) nunca, ou esporadicamente, foi pago o valor total da fatura nos últimos dois anos.
 
A análise dos dados identificou associações entre as características pessoais e os comportamentos financeiramente arriscados no uso do cartão de crédito. Muitos indivíduos procuram, por meio do consumo, alcançar maior status social ou aceitação em seu grupo, adotando uma conduta não racional.
Entre os 552 respondentes que declararam ter cartões de crédito, 35% apresentavam, ao menos, um dos comportamentos considerados de risco. E, destes, quase um terço apresentou dois ou mais comportamentos de risco.
 
Um achado importante da pesquisa deu-se em relação aos estudantes com três cartões ou mais. Estes são mais propensos a ter saldos devedores acima de R$ 1 mil, ratificando estudos anteriores, segundo os quais indivíduos com um grande número de cartões de crédito tendem a adotar comportamentos compulsivos em suas compras, adquirindo bens e serviços que são de pouco uso.
 
A pesquisa ainda identificou que os estudantes com um relacionamento afetivo estável parecem ter maior propensão em assumir saldos devedores mais elevados. No entanto, esses indivíduos são os menos propensos a realizarem pagamentos parciais de suas contas de cartão de crédito.
 
No que diz respeito à manutenção de saldos devedores, o conhecimento sobre os valores das taxas de juros leva os indivíduos a evitarem pagamentos parciais das faturas, resultado que está em linha com a premissa de que a educação financeira leva a uma utilização mais responsável e equilibrada dos cartões.
 
Entre em contato com o professor Wesley Mendes da Silva.
 
Conheça as pesquisas realizadas pelo professor Wesley Mendes da Silva.