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Artigo em foco: Incerteza na Cadeia de Exportação de Açúcar
O Brasil é responsável por metade do açúcar comercializado no mundo e por 20% da produção mundial de etanol, segundo dados de 2012. Como esse produto é uma commodity de baixo valor agregado, a cadeia sucroalcooleira funciona com foco em custos. Entretanto, as variações nos preços internacionais, nos volumes das safras da cana-de-açúcar e a possibilidade de as usinas alterarem o mix de produção entre açúcar e etanol trazem grandes incertezas para o setor, prejudicando a busca por eficiência.
No estudo “Incerteza na cadeia de exportação de açúcar”, publicado na revista Pretexto, os pesquisadores Márcio Cesar dos Santos e Luiz Carlos Di Serio, da FGV-EAESP, em conjunto com Flávio Romero Macau, da Universidade Paulista, e André Luis de Castro Moura Duarte, do Insper, identificam as estratégias que as empresas da cadeia de exportação de açúcar utilizam para lidar com esses riscos.
Santos, Di Serio, Macau e Duarte realizaram a investigação científica em quatro empresas que estão entre os maiores players no mercado de exportação de açúcar. Os principais riscos identificados são aqueles inerentes à cadeia produtiva, relacionados à oscilação tanto da demanda quanto do câmbio. Tais incertezas causam um “efeito chicote”: grandes volumes acabam sendo comercializados em intervalos curtos, de modo a maximizar a oportunidade ou minimizar as perdas. A arbitragem de mercado, que confronta demanda interna e externa, bem como a possibilidade de produção de etanol no lugar de açúcar, amplia ainda mais as incertezas.
Segundo os entrevistados no estudo, uma ação de grande impacto, mas de difícil implantação, para lidar com os riscos é o maior alinhamento da área comercial com a de logística, de modo a fazer uma análise com base nos custos operacionais totais, e não apenas no preço comercial do momento. Outra estratégia, mais utilizada, é o estabelecimento de contratos de longo prazo, que nivelam os volumes fornecidos e atenuam a variação dos preços. Uma terceira estratégia é trabalhar com diversas fontes de suprimento, mesclando possibilidades para manter a estabilidade da operação e, consequentemente, diminuindo os riscos na produção e expedição do açúcar.
Questões de infraestrutura, típicas do chamado “custo Brasil”, também contribuem para tornar o cenário de incertezas ainda mais grave. Entre as várias formas que as empresas encontram para superar esses obstáculos, estão: primeiro, a profissionalização do fornecimento de frete rodoviário; segundo, a realização de contratos de longo prazo com fornecedores de transporte; terceiro, a realização de investimentos em ativos ferroviários e rodoviários especializados em açúcar e na operação portuária; quarto, o fretamento de navios; quinto, o aumento da capacidade de armazenagem em usinas; sexto, a criação de estoques de segurança próximos aos portos; e sétimo, a contratação colaborativa, com outras empresas, de ativos na área de transporte.
Em relação aos sistemas de informação, outro aspecto considerado essencial pelos entrevistados, as companhias também adotam diversas estratégias, tais quais: primeiro, implantar sistemas para troca de informações de demanda, suprimentos e estoques entre os membros da cadeia; segundo, implantar sistemas para suporte de decisão e de troca de informação em tempo real; terceiro, reduzir tempos perdidos; e quarto, desenvolver conjuntamente indicadores de performance e formas de medir o desempenho da cadeia.
Um aspecto que permeia todas essas questões é a colaboração entre os diversos agentes da cadeia, em especial entre empresas competidoras, um objetivo difícil de alcançar. Por exemplo, isso pode se dar por meio do alinhamento de incentivos entre os diferentes agentes. “As incertezas que desestabilizam a cadeia de suprimentos de açúcar pedem por ações que foquem tanto a redução de custos quanto a responsividade e a agilidade, trazendo grandes desafios para seus membros”, concluem os autores. Os resultados do estudo certamente serão úteis para executivos e empresários atuando em outras cadeias produtivas, mas que experimentam problemas similares àqueles da cadeia analisada.
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Conheça as pesquisas realizadas pelo professor Luiz Carlos Di Serio.