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Artigo em foco: Small Worlds and Board Interlocking in Brazil: A Longitudinal Study of Corporate
No contexto da área de governança corporativa, um tema tem chamado crescentemente a atenção: o fato de uma ou mais pessoas participarem, simultaneamente, do conselho de administração de empresas diferentes. Segundo estudos, essa realidade possibilita a formação de redes corporativas e pessoais, nas quais são criados fluxos de recursos essenciais às companhias.
As empresas brasileiras de capital aberto fazem parte de um mundo pequeno, no qual seus conselhos de administração se conhecem? Essa questão motivou Wesley Mendes-Da-Silva a fazer uma pesquisa quantitativa para avaliar as conexões que se formam no topo da gestão em 415 empresas não financeiras listadas na BM&F Bovespa, em um intervalo de onze anos (1997 a 2007).
Estudos caracterizam esse “mundo pequeno” como um ambiente no qual existe uma rede de atores próximos uns dos outros. Quando isso ocorre, há maior propensão ao compartilhamento de visões de mundo e padrões profissionais de conduta. O fluxo de informações que acontece nessas condições também predispõe a propagação de inovações e de práticas de gestão. Ao pressupor que se trata de profissionais de mercado, não é absurdo assumir que os membros dessa rede encontram-se com frequência e vão trocando ideias sobre experiências de outros conselhos em que participam, desde como adquirir uma empresa, até a melhor forma de responder a ofertas de compra.
Mendes-da-Silva chegou à conclusão, inédita no Brasil, de que existe uma elite intelectual que ocupa a alta administração das companhias brasileiras listadas em bolsa. Segundo ele, isso sugere que o mercado de capitais brasileiro cresceu a partir de mecanismos de escolhas de profissionais para o conselho, tendo como consequência a formação de uma rede composta de pessoas próximas.
Essa rede coesa, em que o contato entre empresas é cada vez mais próximo, funciona para aumentar a reputação das companhias participantes e seu acesso a recursos que são considerados indispensáveis para sua operação, mas em um grau que dependerá também do desempenho de cada uma e da percepção de valor que os agentes de mercado têm delas.
Outro resultado da pesquisa de Mendes-da-Silva é que o posicionamento das empresas nessa rede de relações corporativas é relevante para o valor de mercado das companhias. Pesquisas realizadas costumam considerar apenas variáveis relacionadas à composição do conselho, como seu tamanho e o número de membros externos. “O estudo mostra que a maneira pela qual o conselho é ligado à rede de conselhos de outras companhias tem maior influência no valor da empresa”, afirma Mendes-da-Silva. Portanto, a forma em que uma empresa configura seu conselho vai determinar sua posição na rede e, consequentemente, vai impactar seu acesso aos recursos necessários para sua sobrevivência e expansão. O posicionamento na rede corporativa constitui um insumo a ser gerenciado pela companhia.
Segundo o pesquisador, os resultados suportam o argumento que os indivíduos envolvidos em redes de colaboração com uma excelente reputação, ou que representam um acesso superior a recursos, experiência ou conhecimento, tendem a ser mais procurados para compor os conselhos de administração. Nesse círculo, eles aumentam seu prestígio e, ao mesmo tempo, exercem influência sobre as práticas de governança de outras empresas, por meio da articulação e compartilhamento de ideias e perspectivas.
Por meio da atividade efetiva de seus conselheiros, algumas empresas podem ser mais eficazes em estabelecer novas relações, aumentando sua influência e seu poder de participar mais ativamente no fluxo de recursos (financeiros e não financeiros) na rede de relacionamento corporativo. Essas companhias transformam-se em elos-chave para a rede de empresas que estão ao seu redor. Os resultados da pesquisa apontam para a existência de um nível de proeminência social da empresa na rede maximiza o seu valor.
Entre em contato com o professor Wesley Mendes-da-Silva.
Conheça as pesquisas realizadas pelo professor Wesley Mendes-da-Silva.