Curso:
- CDAE
Área de conhecimento:
- Gestão da Informação
Autor(es):
- Erica Souza Siqueira
Orientador:
Ano:
Nessa tese busquei aproximar plataformas financeiras digitais, na figura das Fintechs Sociais, do conjunto de plataformas que procura centralizar o controle sobre o trabalho precário, ao mesmo tempo em que o mantém descentralizado, individualizado e fragmentado. Dessa forma, desenvolvo um modelo teórico que considera que, ao tomar microcrédito nas Fintechs Sociais, o trabalhador precário, na figura do microempreendedor, entra em uma relação de crédito-trabalho, a partir da qual o capital financeiro será valorizado. Uma vez estabelecida essa relação, um conjunto de mecanismos de controle é empreendido pelas Fintechs Sociais, por meio de suas plataformas digitais (componentes online e off-line), para que esse trabalhador se mantenha produzindo, pagando parcelas e renovando o empréstimo. Para construir esse modelo, realizei duas pesquisas com diferentes estratégias. A primeira, um estudo de caso instrumental com uma Fintech Social para entender quais são os mecanismos que visam a centralizar o controle sobre o trabalho e mantê-lo descentralizado, individualizado e fragmentado. A segunda, uma etnografia crítica e focada junto aos microempreendedores da Sulanca, que são trabalhadores do segundo maior polo de confecções do Brasil, localizado no agreste pernambucano, para entender como se organizam e resistem à centralização de controle sobre o seu trabalho. Para a interpretação dos dados coletados em ambas as pesquisas, utilizei o método da hermenêutica crítica. Os resultados apontam para mecanismos de controle: empreendedorismo, vigilância e centralização, agrupados no processo que denominei: Plataformização do Trabalho. Por outro lado, demonstro que, mesmo em face de um trabalho descentralizado e individualizado, existe uma organização coletiva, baseada em solidariedade, que reduz o sentimento de precariedade do trabalho e apresenta diversos mecanismos de resistência à sua plataformização. Esses mecanismos de resistência, identificação de classe, cooperação, invisibilidade, visibilidade e adaptação, compõem o processo que denominei: Descentralização Coletivamente Coordenada do Trabalho. A relação dialética entre controle e resistência, ou entre plataformização do trabalho e descentralização coletivamente coordenada do trabalho, está permeada de contradições. Essa pesquisa contribui para a literatura sobre financeirização, ao passo que mostra como o capitalista financeiro coloca seu capital em circulação e busca controlar ativamente a produção de valor. Também contribui para o programa de pesquisa relacionado à Labor Process Theory, porque o modelo de controle e resistência primeiramente trata de analisar uma nova forma de subsunção do trabalho que não aquele assalariado no chão de fábrica, ao mesmo tempo em que busca enxergar como trabalhadores não são agentes passivos diante do controle sobre seu trabalho e desenvolvem mecanismos de resistência, objetivos e subjetivos.