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[INTRODUÇÃO] Dado que o futebol é uma paixão nacional, e que não raro clubes de futebol se utilizam de histórias de superação de uma situação de vulnerabilidade social para atrair novos talentos, a pesquisa pretende analisar se o futebol pode, de fato, ser uma alternativa de saída da pobreza. Para isso, escolheu-se analisar os testes que os clubes organizam para contratar jogadores para suas categorias de base, uma vez que estes são um marco na vida profissional do atleta. [METODOLOGIA] O trabalho possui dois eixos metodológicos. Para a primeira parte, foi realizada uma revisão bibliográfica das produções acadêmicas nos temas pobreza, exclusão e mobilidade social, e desenvolvimento por meio do esporte. O segundo eixo foram as entrevistas semi-estruturadas, realizadas a partir de um levantamento prévio dos testes organizados pelos clubes, com os atores presentes nestas seletivas: funcionários das categorias de base dos clubes, familiares dos atletas que participam das chamadas peneiras e empresários de jogadores. Cada entrevista realizada foi analisada à luz da revisão bibliográfica apresentada anteriormente. [RESULTADOS] Os clubes de futebol não são transparentes acerca da disponibilização de informações referentes às seletivas. Além disso, o próprio sistema de seletiva de alguns times inviabiliza que jovens de baixa renda participem dos testes – seja pela cobrança de taxas, ou por obrigar que o jogador e sua família tenham grandes deslocamentos durante uma, ou mais semanas. Assim, tem-se que o investimento familiar para participação de um de seus membros nos testes é grande, assim como o impacto que uma possível contratação gera para o jovem e seus entes próximos. Além disso, percebeu-se que há uma relação predatória com empresários que, apesar de poderem contribuir, também acabam prejudicando a carreira de atletas. Jovens de baixa renda, por terem mais necessidades, apresentam maior vulnerabilidade em relação à ação empresarial. Há uma preocupação institucional de clubes no que diz respeito à formação acadêmica de seus jogadores – que devem concluir o ensino médio, pelo menos. Entretanto, dependendo do talento futebolístico do jovem, esta fica em segundo plano. [CONCLUSÕES] Uma vez que os casos analisados não diziam respeito às famílias em situação de extrema pobreza, não foi possível concluir categoricamente se o futebol pode ou não ser uma porta de saída da pobreza. Foi possível identificar, porém, que existem diversas barreiras que impedem que um jovem cujo rendimento familiar seja menor do que um salário mínimo supere sua condição por meio desta prática. Por fim, foi possível perceber que o futebol se configura como uma das oportunidades que se abrem para jovens de todas as classes no que tange a mobilidade social. Embora essa possibilidade seja existente, a carreira futebolística apresenta mais desafios do que a concepção vendida pelos clubes. Assim, não basta apenas nascer com talento para que o futebol se torne um mecanismo de mobilidade social. Existem diversos outros obstáculos entre esta prática esportiva e uma ascensão do indivíduo.